O estudo do suicídio através de uma perspectiva maior que a individual é um dos trabalhos que proporcionaram a afirmação da Sociologia como...

Suicídio

O estudo do suicídio através de uma perspectiva maior que a individual é um dos trabalhos que proporcionaram a afirmação da Sociologia como disciplina científica autônoma na virada do século. Realizado por Durkheim, ele se baseia em uma análise as taxas de suicídio em seis países europeus ao longo de trinta anos, demonstrando que elas variam de acordo com a situação enfrentada por cada um deles. Quando atravessam períodos de estabilidade, as taxas refletem o crescimento populacional. Mas quando as sociedades se encontram em períodos de crise ou de mudança, seja por fatores externos ou internos, o índice de suicídios cresce mais rapidamente. São os casos da França por volta dos agitados acontecimentos da Comuna de Paris (1848), da Alemanha durante sua unificação (1866) e da Inglaterra após o crescimento provocado por seus lucrativos tratados comerciais (1868). Durkheim procurava demonstrar que os suicídios não apresentam unicamente causas psicológicas ou patológicas, sendo também influenciados por aspectos sociais, e criava assim o campo de estudos para a ciência que se formava.

Para Durkheim, são quatro as situações em que o suicídio apresenta relações com a sociedade e tais situações estão dispostas em dois pares. O primeiro par se refere ao grau de assimilação pelo indivíduo dos valores da sua sociedade, ou seja, do seu grau de socialização. Em ambientes onde as pessoas colocam os próprios valores acima das convenções coletivas, há um grande individualismo. Isto pode gerar uma incapacidade em arranjar respaldo para as explicações e objetivos da sua própria conduta. Desconsolado com a fragilidade dos próprios valores, o indivíduo pratica o suicídio egoísta. É o mais comum dos suicídios. Por outro lado, há situações em que o indivíduo absorve de tal forma os valores da sociedade que não ele não se sente dono da própria vida, oferecendo-a como uma espécie de sacrifício ritual. Este é o suicídio altruísta e vem do respeito rígido às normas. Seus exemplos clássicos são o da esposa que se mata logo após a morte do marido, o dos velhos esquimós que abandonam a aldeia rumo ao gelo quando ultrapassam uma certa idade e o dos escravos que se fechavam nas pirâmides com as múmias de seus faraós. O segundo par se refere à intensidade da coerção social sobre os indivíduos. Em situações de coerção muito reduzida, o indivíduo fica desorientado e não percebe claramente os objetivos socialmente valorizados. Ocasionado pela ausência ou pela fraqueza das normas sociais, este suicídio é classificado como anômico (v. Anomia). Em oposição a este, há situações em que as normas são tantas e tão rígidas que o indivíduo sente-se impotente perante elas. Nessas condições aparecem suicídios fatalistas, que são último recurso de indivíduos em becos sem saída, os quais a própria sociedade engendrou. Os camicases japoneses são um exemplo disso: na ausência de armamentos pesados, os pilotos usam o próprio avião como arma.

A pesquisa de Durkheim, se teve méritos incontestáveis na sua época, apresenta para os padrões de hoje um universo de análise bastante limitado. Para ampliá-lo, seria necessário unir a Sociologia e a Psicologia, algo que Durkheim queria exatamente evitar. Só assim seria possível conhecer os motivos, estabelecer uma distribuição desses motivos e localizar os fenômenos sociais que influem na variação dessa distribuição no tempo e no espaço, tarefas que Durkheim realiza de maneira extremamente simplificada. Além disso, tal estudo implicaria em dificuldades crônicas para obtenção de informações, onde a definição da metodologia seria fundamental: como avaliar casos em que não são deixados nenhuma espécie de bilhete? Será válido entrevistar parentes? E suicidas em potencial? E as pessoas que tentaram se suicidar e não conseguiram?

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